terça-feira, 29 de setembro de 2009

Lágrima de gelo


Uma clara noite de inverno, o céu estava com muitas nuvens, coberto de todos os lados, com exceção de um pequeno orifício no qual se podia ver a lua, essa noite mais cheia do que nunca, olhando tinha-se a impressão de que ela tinha se aproximado da terra.

Ao declinar sua cabeça em seu leve travesseiro de penas de ganso, muito cansado por horas a fio em viagens, Chris reparou que na janela bem ao lado de sua cama um pequeno, mas belíssimo, floco de neve estava decolando para fora da beirada da janela, ficou observando cuidadosamente o floco.

O vento estava muito fraco, porém para a leveza de um mísero floco, era o necessário para tirá-lo da beirada e quem sabe voar durante um tempo, mas... Quanto tempo? Isso nem Chris sabiam, a única coisa que o floco sabia é que o vento era, mas forte, diante de tal imponência o floco não pensou duas vezes (por sinal nem uma, pois flocos não pensam), só simplesmente foi arrastado..., será? O floco foi lançado à sorte.

Voou? Voou! como fosse um par, que numa valsa triste, se desprendesse ao som dos violinos, voava, teimando, lutando para subir na sua ignorância e falta de visão para chegar a um destino que nem ele sabia.

O inevitável aconteceu, mesmo com a beleza de estar começando a voar, o floco bateu em um aquecedor e como uma lagrima, caiu em forma de gota na beirada do quarto do hotel em que Chris, e inevitavelmente também, pelo frio, a gota congelou, voltando a ser gelo. Agora, não tão mais belo, não tão mais formoso, não tão mais vivo, o que se via era apenas um floco velho, frio, cansado, morto.

Em um primeiro momento tudo era muito simples, o que tem de errado? Pensou Chris, o vento bateu e um floco voou o que tem de estranho nisso. Mas pensamentos deixaram a nem tão inocente mente de Chris em um estado inquieto.

Primeiro, colocou o vento como culpado, o pobre floco não tinha culpa, foi arrastado sem dó nem piedade, foi jogado propositalmente contra um aquecedor que qualquer um saberia que o tiraria completamente a beleza.

Chris até achou um motivo: inveja, o vento estava sentindo-se injustiçado, todos ao verem um floco sempre achariam bonito, a perfeição de um olhar microscópico é inegavelmente maravilhoso, diferentes de muitos outros seres como uma borboleta, que ao olharem de longe é linda, porem ao ampliar em seu rosto as pessoas comumente não enxergam mais tanta beleza.

O vento seduziu o pobre floco, achava que as pessoas ficavam admirando a perfeição da neve, mas e o vento, ele se sentia solitário, mal amado, ajudava tanto a humanidade, e só recebia respostas negativas, e quanto à admiração nem se fale, o próprio Chris nunca tinha ouvido nem um comentário falando sobre a beleza do ar, ele é invisível e se sentia mal por isso, fato de não poderem vê-lo, de não o admirarem, deixou perturbado, a ponto de... tirar a beleza de um jovem floco.

Para qualquer um (até para mim) seria caso encerrado: foi o vento, pronto acabou, pegaria uma bola vazia, colocaria ar dentro amarraria uma grande pedra e jogaria o vento a jogaria no oceano, caso encerrado. Mas nos estamos falando de Chris Wallace, em seus 25 anos de vida pelo menos aprendeu uma coisa, quando se investiga uma coisa, deve-se ir ao máximo do profundo, mas você que está lendo isso deve estar se perguntando: ele já não foi fundo de mais? Bem eu na minha mera e pobre essência mortal e sociologicamente moldada para uma sociedade capitalista, altamente individualista e ocupado de mais para se perguntar sobre um floco de neve, acharia outra atividade trivial para fazer e me encaixar melhor nesta putréfula sociedade onde as pessoas são preparadas para ser clones robóticos, e sem nem uma existência diria obviamente que SIM.

Na verdade Chris não tem nada de (muito) diferente de mim ou de você ele só parou alguns segundo para fazer um ato que estava deixando de fazer, ele tinha amigos tinha família, tinha sucesso ele aos 25 anos era dono de uma das maiores empresas do mundo, no ramo da robótica, mas ele teve erros e nunca parava mais para pensar, não sabia mais quem era ele.

Quando jovem montou uma empresa na garagem e ficou multimilionário.

Mas qual é o sentido disso, ele teve uma infância problemática, sem amigos, ninguém gostava dele, por sinal nem inteligente era, era uma criança cheia de defeitos, que procurava qualidades, e não entendia a rejeição, e mesmo novo teve uma pequena idéia, porém uma grande ilusão achava que seus pais iriam gostar mais dele se ele se destacasse na escola, pois eles eram muito ocupados, viviam faltando reuniões, trabalhavam muito, porém não eram conseguiam segurar o dinheiro, Chris tinha 12 irmãos, seu sonho era ser reconhecido pela família pelos amigos, também achava que se estudasse conseguiria amigos. Afundou-se em livros foi procurar coisas muito alem de sua faixa-etária.

Não conseguiu os amigos, mas, ficou rico. Mas no fundo Chris não era feliz ele e cercado de víboras e seus sonhos foram sem nem uma dó, afogados. Chris era desde muito cedo revolucionário. Queria mudar seu mundo, achava que ainda tinha uma solução, se recusava a aceitar muitos comportamentos impostos pela sociedade, isso custou caro, Chris ficou foi marginalizado socialmente. Ele não concordava com comodismo, não achava certa a falsa praticidade que na verdade era indolência de reflexão, tinha horror aos padrões de beleza impostos pela mídia, eles escolhem o que é bonito, o que é feio, o que é masculino, o que é feminino, o que é bom, o que é ruim, o que vestir, o que comer, que atos tomar, Chris chegou ao ponto de pensar que em um futuro não muito distante as pessoas seriam feitas como qual quer outro produto como copos ou vasilha simplesmente joga-se em uma forma e todas seriam uma igual a outra assim acabaria os problemas das diferenças e tudo seria como realmente quem manda quer, pessoas que escutem e não cogitem extremamente nada, como uma espoja a qual tudo o que se joga em cima dela é absorvido, sem nem um problema para ela. E se por acaso algum nascesse diferente do padrão por que não voltar com a eugenia adotada pelos espartanos e pelos nazistas?

Chris percebeu que isso não é uma visão louca futurista de um filme antigo que tentava falar que no III milênio as pessoas iriam morar no espaço e diversas outras loucuras que assistimos nesses filmes que destorcem o futuro ao ponto de falar que seria dominado por macacos (o que pode até acontecer se o ser humano continuar regressando desta maneira), mas é um retrato realista do que vivemos hoje, todos são iguais (ou tentam ser) seguem a maneira de pensar de quem está em cima.

Um dia alguém resolveu chamar os quadros de Picasso bonitos, achar que eram caros, até em sua época eles eram rabiscos, o que era perfeito era bonito. Hoje nas artes falam que o importante não é estar perfeito, nem a obra em si, muito menos quem fez a obra, é o sentimento que provocam, por isso que hoje até mesmo uma caixa de sapato no chão é uma obra de artes, e por isso que surgiram as poesias modernistas, disformes e fora de assuntos tradicionais, em hora nem uma ele achava isto errado, mas pensem como Chris isso só ganhou força por que alguém com influencia falou que é bom, o que é bom? Chris todo dia se fazia todos os dias, chegou à conclusão que algo só é agradável quando alguém diz que é, mas..., QUEM? A filha de Chris tem 7 anos fez um anjo para dar de dia dos pais, tem uma cabeça enorme, corpo pequeno, braços tortos, olhos de pingo é feito com argila barata, para ele isso é lindo. Mas quem é ele, hoje ele é uma autoridade na robótica, se ele fala bom está bom, se fala ruim sem cogitação.

Enquanto a eugenia ela acontece também, mas não do mesmo jeito que antes, é de um jeito muito pior, as crianças não são, mas jogadas de um penhasco, mas sim são moldadas e se saírem com algum defeito (diferença) são marginalizadas, sofrem com a rejeição, caso de Chris que não aceitou isso muito fácil e sofreu a rejeição que é a pior tortura.

Como doutor de robótica Chris chegou a uma conclusão ao inventar os primeiros robôs o homem na verdade estava fazendo um auto-retrato de seu próprio futuro, a primeira geração de robôs não faziam nada senão um pequeno serviço repetidamente, não tinham vontade, não eram tão complexos, não pensavam só obedeciam, e eram TODOS IGUAIS.

Com o tempo vieram as novas gerações, a apple acabou com a ditadura do cinza nos computadores, começaram a ser diferentes, os robôs começaram a ser mais “humanos” enquanto o ser humano fica mais robô, mas o pior de tudo, para Chris, ele era um deles.

Estava cansado de ter o pensamento igual ao de todos, a convivência o sucesso fez ele se tornar a coisa que ele tinha ojeriza, mais um clone, sem perceber teve seus costumeis modelados seu pensamento, suas vontades, ele se conhecia, aquele não era o Chris, ele olhando aquele floco percebeu que não tinha mais sonhos, perdeu seus sentimentos, não se preocupa mais com a fome no mundo, se sua casa tiver comida os outros...

Olhando aquele floco percebeu que não refletia mais, se cansou, ficou “maduro”, preocupar-se com pequenas coisas é objeto de reflexão de crianças, que não tem nada melhor para pensar, será? Não foi por essa criatividade que ele chegou a esse ponto, conseguiu criar sua empresa, ficar rico, se casar, mas ele perdeu isso.

Indignou-se com tudo isso e culpou a sociedade, as pessoas, seus pais, tiraram seus sonhos, se sentiu enganado, induzido.

Depois olhou pela sua janela uma segunda vez e chegou à conclusão de seu caso, o vento não era totalmente culpado.

O floco era jovem, queria se aventurar, mesmo sabendo dos riscos, a cada passo que seguia ele sabia que o que estava fazendo jamais teria volta, andava um pouquinho, percebia que estava se afastando, se rendeu aos braços do vento, por que aos olhos de um floco mesmo sendo fraco, era enorme e fortíssimo, o floco decidiu se entregar ao vento, se ele quisesse continuar em seu lugar, em sua ideologia, ele teria se juntado aos outros formado uma massa pesada que com certeza o fraco vento não moveria extremamente nada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário